25 de abril de 2005

Um dia, um cara pirou. Quis viajar no tempo. Sabia como fazer a viagem, mas não tinha coragem. Chamou um sujeito que tinha essa coragem suficiente para jogar tudo pro alto, arriscar tudo, só para ter a chance de encontrar a si mesmo no passado. Seria uma viagem sem volta? Tudo iria mudar? Só depois de fazer ele iria saber. Esse cara, sou eu.

Claro, que por motivos óbvios e também pela falta de certeza de sucesso da viagem, eu escrevi uma carta antes. O tempo escolhido: meados de 1995. Eu tinha 15 anos de idade nesse ano.

A carta?! Bem... a carta eu já escrevi e vocês nunca saberão se eu a entreguei ou não. Mas em compensação vocês poderão lê-la agora, antes de eu fazer a minha viagem sem volta. Digo "sem volta" pois essa carta que tenho em mãos possui informações que mudarão a vida do Pedro de 1995, independete dele seguir o que está na carta ou não. Einstein provou que só a minha PRESENÇA numa época errada que não é a minha, já seria capaz de provocar consequências drásticas e incalculáveis para mim e todos aqueles que estejam relacionados direta ou indiretamente comigo.

Segue abaixo a carta:

Fala aí Pedrão. Você pode estar estranhando eu te chamar assim de "Pedrão", mas é assim que todos te chamarão daqui alguns anos. Não vou perguntar como você está, pois sei exatamente como está. Eu sou você amanhã (nossa, eu sempre quis dizer essa frase hahahaahah), esqueceu ? Então vou te dar uma pequena idéia do que você deve fazer pelos próximos 2 e cruciais anos da sua vida. Tudo que você fizer ou deixar de fazer daqui pra frente, irá mudar a sua vida de maneira que você (eu) só entenderá isso no futuro.

Não sei como me referir a você, ou a mim, ou a nós. Pois estou falando da mesma pessoa, mas em épocas diferentes. Acredito que você esteja em casa agora, na Rua Tirol, no seu quarto, lendo essa carta que eu te entreguei hoje na saída do colégio. Sua ficha ainda não caiu pelo visto né ? Então vamos por partes. Eu voltei no tempo pra te entregar isso e logo depois desaparecer. Eu digo desaparecer porque eu não sei se conseguirei entregar a carta, não sei sequer se chegaremos a nos encontrar. Não sei, menos ainda, se é possível que essa carta continuará a existir depois que eu mudar nosso destino ao provocar um encontro de dois eu´s. O que me importa agora é que você saiba o que deve fazer pelos próximos anos para ser feliz, não se arrepender no futuro.

Agora eu preciso mostrar um pouquinho de jogo de cintura para "vender" essa minha conversa mole que você, pelo jeito ainda não está acreditando. Realmente é estranho escrever pra si mesmo, mas lembre que você gosta de escrever e isso não mudou nos próximos 10 anos de sua vida. Aos 25 anos, seremos uma pessoa feliz, com orgulho no peito ao dizer que viveu sua adolescência da maneira correta. Será verdade? Isso é algo que está em suas mão. O basket, nunca abandone, será sua paixão pra sempre e acho que isso eu nem preciso pedir, pois de certo modo, sem você saber talvez, você já o ama. Ano que vêm, ele será o seu melhor amigo, por isso, cultive-o. Na hora que você mais precisar dele (o basket), você terá uma Spalding na mão e irá para a primeira quadra que tiver por perto com ela na mão e ficará horas ali. Só você, a quadra e a sua querida Spalding. Triste? Não, nem um pouco, isso vale como experiência de vida. Mas o mais importante de tudo. Nunca, nunca deixe ninguém passar você para trás por sua bondade. Mas não, não seja mau. Até porque, não conseguirá ser, não é natural de sua índole. Seja o Pedro sentimental, solidário e amigo que todos conhecem. Isso será sempre a sua marca registrada para o resto da vida e você não pode abrir mão disso. Essa mesma bondade será sua pior inimiga. Tenha cautela até onde couber dentro de você. Seja sempre desconfiado, isso não é vergonha nenhuma. Vergonha é ser passado pra trás e depois pensar consigo mesmo "eu sou um merda". Não, novamente digo, você não é um merda por ser bom. Só não deixe ninguém tirar proveito disso, senão você passará de "bom'' pra otário num instante. Isso irá acontecer se você fingir que nunca leu essa carta.

Quanto às grandes paixões que você terá em sua vida, as maiores, surgirão nos próximos 3 anos aproximadamente. Lembre sempre de uma coisa para sempre: as maiores oportunidades, os maiores amores e as melhores amizades, estão mais perto do que a gente pode enxergar, portanto, procure sempre no lugar menos óbvio. Não é uma regra, nada disso é regra, até porque, só de estar lendo isso, sua vida já será diferente. O Pedro que escreveu isso, morreu, existirá outro no lugar desse, faça esse risco que corri valer a pena e use essa época da sua vida da maneira mais intensa que lhe couber, ok? Não seja preguiçoso, não deixe cada segundo passar sem você ter certeza absoluta que o aproveitou ao máximo. Não abra mão de seus sonhos (você sabe de quais estou falando) e corra atrás deles mesmo que isso custe alto e te faça passar por cima de coisas que outrora você consideraria intocáveis. Lute, faça, batalhe. Seja um Pedro que deixará o próprio Pedro orgulhoso de si. Não tente deixar mais ninguém orgulhoso por você, Agrade a si primeiramente, pois agradar os outros e ser um sujeito agradável você já é o tempo todo com todos, mesmo não sendo aquilo de verdade. Você gosta de passar alegria a todos ao seu redor, isso é bom. Cultive isso, mas sem esquecer-se preliminarmente dos prós e contras que citei acima.

Bem, é isso. No mais, UP THE IRONS!! (sim , daqui a 10 anos você ainda gostará de Iron Maiden e o Bruce Dickinson vai voltar à banda, mas não conte pra ninguém, ok?) Um abraço do seu melhor amigo, você mesmo, Pedro Feital.