8 de janeiro de 2006

Se você ama cinema, não vá ao cinema!

Essa pseudo-contradição, é uma realidade que as pessoas com alto poder aquisitivo (as que menos vão ao cinema), são justamente as que menos compreenderão a complexidade de gostar tanto de algo e se afastar por motivos financeiros do mesmo. É o que acontece comigo quando sou colocado contra a parede por fazer download de filmes pela internet (diga-se de passagem, algo que faço compulsivamente a cerca de 2 anos, coincidindo com o período que estou sem entrar numa sala de cinema).
Hoje em dia, gasta-se em média uns R$ 70 a R$90 mensais para se ter uma conexão banda larga em casa. Abre-se então, um leque de oportunidades de downloads em massa, seja para filmes, músicas, jogos, etc. Com exceção de jogos, eu sou um downloader compulsivo assumido. Na internet eu encontro material que levaria umas 5 ou 6 vidas para juntar, em razão do custo 'legal' disso tudo caso fosse comprar cada CD de música e DVD de filmes e shows que eu baixo. Estou assumindo um crime publicamente aqui no meu blog? Há controvérsias. Até pouco tempo atrás nos EUA, uma polêmica surgiu em cima do processo que um velhinho de 72 anos tomou do Estado, em razão de seu neto ter baixado músicas pela internet através do computador do avô.

Para por fim a essa discussão e a esse relato pessoal meu, trago até vocês - para quem não leu ainda - a coluna de hoje do Artur Xexéo, no jornal O Globo.

por Artur Xexéo (O Globo)

O problema é o preço
O e-mail da leitora explica a crise por que passa a exibição cinematográfica:
¿O ingresso está caro. Para quem gosta de cinema, para quem vai sempre ao cinema, está caro. Pagar R$ 14 por um ingresso é caro. Duas pessoas pagam R$ 28. Três, R$ 42. Fora o estacionamento dos shoppings, R$ 3,50. Eu adoro cinema. Costumava ir duas a três vezes por semana quando havia filmes bons que se sucediam. Hoje, procuro as promoções em algum dia da semana, quando se paga uma ninharia. Aliás, ir ao cinema, só em dias úteis. Sábados, domingos e feriados é o fim. Lembra piquenique em família.¿
Quase ao mesmo tempo, chega e-mail de leitor com argumentos repetindo a mesma ladainha:
¿O preço é muito alto para o poder aquisitivo do brasileiro médio. Um ingresso nos desconfortáveis (lembra do Metro Boavista? Tinha algo melhor na face da Terra? ) e nada charmosos cinemas de shopping ¿ alguns do tamanho da sala do meu apartamento!! ¿ custa R 16 em média. Se considerarmos também preço absurdo da coca-cola e da pipoca, imagina quanto uma família de quatro pessoas gasta para ir a um cineminha: uns R$ 100, ou seja, um terço do salário mínimo.¿
A coluna de domingo passado, comentando um artigo do ¿New York Times¿ sobre a queda na freqüência às salas de cinema americanas, foi um pouco além do nosso universo de 17 leitores. Reproduzida na newsletter da jornalista Maria do Rosário Caetano, ganhou comentários de seus (dela) leitores e reforçou o principal motivo que vem afugentando os espectadores de cinema. Reproduzo um desses depoimentos:
Tenho dois filhos, de 4 e 6 anos de idade. O mais velho adora ir ao cinema. Programa-se antecipadamente, pois está aprendendo a ler, principalmente assistindo aos trailers que rolam não só na tela grande dos multiplex como nos monitores de TV espalhados pelo saguão.
Indo ao cinema no fim de semana com minha mulher e as duas crianças, gasto mais de R$ 40. É tamanho o estouro no cartão de crédito (o que mais me impressiona não é nem o ingresso, mas aquele combo da pipoca infantil que sai entre R$ 11 e R$ 12, aliás, pipoca no multiplex só falta vir com grife da Daslu de tão superfaturada) que tive que segurar o ímpeto do mais velho e programar uma ou duas vezes por mês essa ida ao cinema com a família.
Praticamente, gasto um DVD indo ao cinema com eles. É ou não é o caso de um pai de família pensar em esperar mais um pouco e ir na videolocadora gastar R$ 6 por uma sessão de domingo? Se cortar todas as idas ao cinema com a família, poderia ter, em um ano, uma coleção de 24 DVDs em casa pelo mesmo preço. Acredito que o cinema ainda tem poder de sedução entre os mais jovens: sua tela, seu som, seu programa de fim de semana. Mas é hora de pensar em economia de escala urgente para os exibidores.
Não vai ser sempre assim. Tem gente boa na indústria cinematográfica que acredita que a exibição digital vai baratear tanto os custos do cinema que as sessões no futuro serão... gratuitas! O exibidor ganharia dinheiro com o que cerca a exibição cinematográfica. Hoje é a pipoca e o refrigerante. No futuro, podem ser as cadeias de restaurantes ou os shows de rock. Já há multiplex em Nova York em que o hall de entrada se confunde com balcões do Outback. Um cinema antes, uma costelinha de porco depois.