Devo começar esse texto com uma justificativa que tornou-se bem clichê nos tempos em que vivemos: sempre fui pacifista. Sim, sempre fui um pacifista dos mais radicais, daqueles que mesmo em casos extremos se recusava a crer que uma pena de morte era algo 100% adequado. Como as coisas mudam, não é mesmo?
Ainda acho que a morte arbitrária de alguns inocentes não trará nenhum benefício para o que alguns chamam de ''A Revolta do Vinagre'' e outros chamam de ''Movimento Passe Livre''. Talvez nos traga incentivo. E digo 'nos' pois hoje faço parte disso, faço parte do time que se tomou por ódio, raiva, revolta e descontrole emocional fundamentalista. Desejo arbitrariamente a morte, com muito sofrimento, de políticos que por anos, décadas, foram vampiros de uma nação inteira. Não esqueci também que esses vampiros sugaram apenas o que foi permitido por essa nação que eles sugassem. Não esqueci também, que mesmo com todas as facilidades de roubo, de maracutaias, de corrupção, de impunidade, eles jamais cessaram suas atividades querendo mais e mais.
Vivemos hoje uma guerra, onde de um lado podemos ver o povo em formação de ideias e do outro políticos criminosos tentando a todo custo, com atitudes facistas, se livrar de um problemão que caiu no colo deles. Já a polícia que está sendo usada como ferramenta de repressão, balas de borrada, gás lacrimogêneo e spray de pimenta, já está evoluindo para tiros de verdade. Isso se tornou mais que uma guerra, se tornou sim um embate de fundamentalismos. O chamado 'povo' está na berlinda de provar se está mesmo determinado ou se é só dar um cascudo que essa criança malcriada irá pro canto. Dizem que o gigante acordou e finalmente chegou a hora dele provar que não levantou apenas para dar uma mijada.
Torço por dias melhores, com total consciência que eles demorarão, provavelmente, muito mais do que os mais pessimistas imaginam. Tendo plena consciência que termos mais raiva e menos 'bundamolismo' brasileiro, nos levará a vitória iminente. Somos 200 milhões.
Sou a prova viva que tomar gás lacrimogêneo nos pulmões transforma um cidadão. Principalmente quando esse cidadão passou a vida inteira pagando impostos, tentando seguir na linha, sem reclamar, vivendo dentro da situação burocrática estúpida que o nosso atrasado país vive há décadas, até que ele acorda e vê que tem bem mais coleguinhas brincando da mesma coisa que você gostaria de brincar. Daí a brincadeira se torna séria e todos descobrem que o prêmio lá na frente é recompensador em gênero, número e grau.
Sem política e sem partidos, minha raiva nasceu não só por mim, mas por todos nós. Creio que já passou da hora, portanto, de se ter mais raiva. Uma raiva séria e fundamentalista SIM. É iss que separa os homens dos meninos e separa as nações bagunçadas dos PAÍSES.
O U2 já falava disso há exatos 30 anos atrás no disco ''War'' (sugestivo o nome?), numa época em que guerras extremamente políticas como Malvinas, Oriente Médio e África do Sul se espalhavam pelo planeta.
Num trecho da música ''Two Hearts Beat As One'' (Dois Corações Batem Como Um), uma das minhas prediletas de toda a discografia dos irlandeses, eles dizem: ''Eu não sei distinguir minha direita da esquerda ou o certo do errado Diga
que sou um tolo, você diz que eu não sou para você Mas se eu sou um tolo para
você, já é alguma coisa''
Ao observar a educação que a filha de um casal de amigos recebe no início de sua vida, pude ter certeza que muito da nossa degradação cultural, se deve a falta de participação dos pais na formação do tipo de cultura que aquela criança consome. Não que ela não receba esse tipo de aprendizado dos pais. Pelo contrário. Provavelmente ela irá destoar da maioria dos coleguinhas e ter um prévio conhecimento cultural, principalmente musical, para ser mais seleta na hora de escolher o que ouvir nas horas de lazer.
E como isso afeta a educação de uma criança? De diversas formas, principalmente fazendo ela fugir das armadilhas mais nocivas que a subcultura de um país pode oferecer. Quando vivemos a era do tal 'quadradinho de oito', ou outras danças de gosto duvidoso trazidas para o sudeste desde o boom do axé no país com 'boquinha da garrafa' e coisas desse naipe, ficamos sujeitos a degradações cada vez mais incisivas.
Será que podemos ser incisivos numa outra direção? A filha desse casal de amigos me parece ser a prova que podemos proporcionar uma educação incisiva sem sermos ditadores culturais. Sem você determinar o que aquela criança, futuro cidadão formado, terá dentre seus gostos, você pode apresentá-la e ambientá-la num contexto mais elaborado. Acredito que certos meios de subcultura impedem incisivamente tal capacidade - comum a todos nós no início da vida - de conhecermos e escolhermos livremente, sem contaminação o que se pode consumir em termos de cultura. Afinal, qual cidadão com o mínimo de bom senso, ainda que tenha o QI de uma ameba, pode achar um funk mais benéfico culturalmente do que Beatles?!