28 de dezembro de 2013

As cadeiras lucrativas

Há muito tempo venho notando (e reclamando) dessa tendência dos bares aderirem a essas cadeiras de madeira com encosto desconfortável. Aliado a isso, hoje constatei despretensiosamente, que a postura dos frequentadores de bares está preocupante. Corpos curvados para frente e colunas sem apoio que provavelmente resultarão daqui alguns anos em seríssimos problemas de postura, dores, cirurgias de hérnia de disco, etc.
Me intriga imaginar se não passa na cabeça de nenhum cliente reclamar sobre essa recente moda, pode-se assim dizer, que pegou em tudo que é bar. Parece que não existe mais outro tipo de cadeira. Aquelas cadeiras de plástico, mais confortáveis, com apoio para os braços e um encosto bem mais amplo para as costas, caíram em desuso nos novos e recém-inaugurados bares. Até uns antigos aderiram.
A princípio pensei tratar-se de uma medida burra para espantar cliente. Depois conversei com um grande amigo que já gerenciou um dos maiores e bem sucedidos bares do Rio de Janeiro e ele me explicou os motivos. Vamos fazer umas contas não muito difíceis.
Se considerarmos valores médios de uma garrafa de 600 ml de cerveja por R$ 7,00 e uma porção de batatas fritas por R$ 20,00, para uma mesa de um grupo de 5 pessoas (que na verdade ocupa uma mesa de 6 lugares considerando-se as pontas da mesa), e um consumo médio de 12 garrafas de cerveja (calculando 1 litro e meio de cerveja por pessoa), além de 2 porções de batata frita para o grupo. A conta dessa mesa custaria R$ 124,00, para um grupo que não ficará menos de 3 horas ocupando aquelas duas mesas, afinal, 5 lugares não cabem numa única mesa quadrada, sempre se 'junta' outra mesa totalizando 6 lugares (nesse caso, um sobra).
Vamos considerar um casal no mesmo bar. Consomem os mesmos 1,5 litro por pessoa (5 garrafas no total para o casal) mais uma porção de batatas fritas. A conta deu menos da metade do grupo do exemplo anterior, porém a permanência desse casal não passa de 1 hora e meia, dificilmente chega a duas horas, o que dá um fluxo ao estabelecimento.
Num bar de padrão popular, não é do interesse da casa que uma mesa fique ocupada por muitas horas. Um consumo de R$124,00 por 3 ou 4 horas não compensa o mesmo que duas mesas de casais separadas consumindo R$55,00 cada mesa em 1 hora e meia, afinal são R$110,00 de faturamento pela MESMA QUANTIDADE DE MESAS ocupadas que um grupo ocupando-as por 3 horas e dando apenas R$24,00 de faturamento por pessoa, enquanto o casal faz a casa faturar R$27,00 por pessoa pela metade do tempo.


Resumindo: os bares não querem seu grupo lá. Se tiverem cadeiras confortáveis você não irá embora rápido, mas isso não é do interesse deles. Realmente as cadeiras de plástico estão raras e me deixam com saudade. 

20 de outubro de 2013

Generalizar Geralmente

Há quem confunda as duas coisas. Geralmente, quem diz 'não generalize', começa dizendo ''nem sempre'', mas não entende que ''geralmente'' não lida com totalidades.

Exemplo de uma resposta inadequada:
- Geralmente gordos se entopem de doces.
- Nem sempre, há gordos que preferem massas.

O erro está em complementar uma frase como se fosse uma correção. Em momento algum foi dito que todos os gordos se entopem de doces. As pessoas estão preguiçosas para entender?
O título desse post começou a ser desenvolvido na minha mente após uma conversa que não tem muito a ver com o exemplo acima.

Comecei divagando com uma amiga sobre os comportamentos de homens e mulheres no âmbito social de hoje em dia, principalmente a noite. Quando eu era moleque, eu via meus amigos roqueiros indo para festas que tocavam funk só no intuito de 'pegar mulher'.
Eu não me sentia a vontade com aquilo. Sim, eu era diferente. Não sei se 'melhor' ou 'pior', mas diferente deles. E preferia ficar em casa.

Trazendo para os dias de hoje temos alguns questionamentos ainda naquela área do ''geralmente''.
Vejamos:
- Por que homem de hoje em dia depila o peito? Porque mulher de hoje em dia gosta de peito liso. - Por que homem de hoje em dia se mata de malhar e tomar suplemento (quem não faz isso é esquisito, é ''o diferente'') ? Porque mulher de hoje em dia só quer os sarados. - Por que os homens usam as MESMAS roupas? Porque as mulheres preferem os que estão na moda, seja lá qual for o estilo, tem sempre uns 2 ou 3 estilos que estão na moda. - Por que os homens são idiotas e nao sabem falar sobre um livro, um filme, uma peça de teatro, uma exposição? Porque as mulheres só querem saber de night, compras, boates e o ultimo livro q leram foi 'Harry Potter' ou ''50 Tons de Cinza'.
Repararam quanta coisa ofensiva (para alguns) eu coloquei acima? Se você diz algo assim em meio a uma discussão, a primeira reação é sempre ''não generalize''. Não tem nada que me irrite mais atualmente do que isso numa conversa. Parece que temos que estabelecer todas as especificações daquilo que estamos falando, simplesmente para não ficar parecendo que estamos falando da totalidade.
Como talvez me faltem palavras para ser mais específico, termino meu post com as definições, segundo o Dicionário Houaiss das duas palavrinhas em questão.

GENERALIZAR
verbo
transitivo direto, bitransitivo e pronominal
1 tornar(-se) geral; estender(-se); propagar(-se); universalizar(-se)
Exs.: g. críticas (a todos)
modo de ensino que se generalizou
pronominal
1.1 espalhar-se, propagar-se (diz-se de certas doenças)
Ex.: a epidemia generalizou-se rapidamente
transitivo direto
2 tornar mais amplo; dar maior extensão a (algo)
Ex.: g. um conceito


GERALMENTE
advérbio
1 de modo genérico, totalizante
Ex.: falo g., não caso a caso
1.1 pela maioria das pessoas
Ex.: seus livros eram g. bem aceitos
2 na maior parte das vezes; em geral
Ex.: g. não saímos à noite

20 de agosto de 2013

Foram os R$0,20 SIM

Eu não sou nenhuma celebridade influente para dizer isso e alcançar alguma repercussão ou polêmica. Afinal, o meu estreito alcance de 500 amigos no facebook, me limita a, no máximo, arrumar uma discussão mais acalorada com alguém de opinião diferente da minha. Mesmo assim, direi algo muito triste sobre o Brasil.
Lembram daquele papo de 'o gigante acordou' e 'amanhã será maior' (que inclusive eu fiz parte desse coro) ? Pois bem notei já há um tempo, só não tinha coragem de confirmar e reafirmar, que a coisa acabou. Temos uma meia dúzia de gatos pingados indo pra Alerj, pra um ou outro protesto, mas ninguém deu as caras mais depois que os cães do Cabral desceram o cacete. As mães proibiram seus filhos e filhas de dar a cara a tapa LITERALMENTE e tentarmos um país um pouco mais consciente. Quando vejo a imprensa podre tipo revista Veja, lançando a ideia de 'manifestantes vândalos' mas jamais, em momento ALGUM em todo esse processo, se dedicou a uma reportagem SÉRIA mostrando a truculência e forma como os (poucos) manifestantes até agora estão sendo tratados.
Foram R$0,20 SIM que levaram as multidões as ruas. Ao menos é essa a impressão que passa agora, que o 'problema foi resolvido' e todo mundo sumiu. Não me conformo de ver apenas 300 mascarados na porta da Alerj e dezenas de milhares num estádio de futebol. Esse não é o país que quero pra mim. É um país que me desperta nojo, desprezo. Afinal, o que faz um país é O POVO. Esse povo não é digno da minha admiração. Faço parte dele, mas isso é um axioma antigo, do qual somente quem fala livremente, sente na pele os censores. Sinto sempre a turma do 'deixa disso' quando falo algo do tipo. Aqueles que gostam de amenizar o grave, de diminuir um inconformismo meu, mas jamais me explicaram porque devo ter orgulho desse país.
Qual razão de ser patriota em um lugar que ninguém parece ter orgulho de viver nele, nem quer defendê-lo com unhas e dentes?

21 de junho de 2013

Tá Faltando Raiva


 Devo começar esse texto com uma justificativa que tornou-se bem clichê nos tempos em que vivemos: sempre fui pacifista. Sim, sempre fui um pacifista dos mais radicais, daqueles que mesmo em casos extremos se recusava a crer que uma pena de morte era algo 100% adequado. Como as coisas mudam, não é mesmo?
Ainda acho que a morte arbitrária de alguns inocentes não trará nenhum benefício para o que alguns chamam de ''A Revolta do Vinagre'' e outros chamam de ''Movimento Passe Livre''. Talvez nos traga incentivo. E digo 'nos' pois hoje faço parte disso, faço parte do time que se tomou por ódio, raiva, revolta e descontrole emocional fundamentalista. Desejo arbitrariamente a morte, com muito sofrimento, de políticos que por anos, décadas, foram vampiros de uma nação inteira. Não esqueci também que esses vampiros sugaram apenas o que foi permitido por essa nação que eles sugassem. Não esqueci também, que mesmo com todas as facilidades de roubo, de maracutaias, de corrupção, de impunidade, eles jamais cessaram suas atividades querendo mais e mais.
Vivemos hoje uma guerra, onde de um lado podemos ver o povo em formação de ideias e do outro políticos criminosos tentando a todo custo, com atitudes facistas, se livrar de um problemão que caiu no colo deles. Já a polícia que está sendo usada como ferramenta de repressão, balas de borrada, gás lacrimogêneo e spray de pimenta, já está evoluindo para tiros de verdade. Isso se tornou mais que uma guerra, se tornou sim um embate de fundamentalismos. O chamado 'povo' está na berlinda de provar se está mesmo determinado ou se é só dar um cascudo que essa criança malcriada irá pro canto. Dizem que o gigante acordou e finalmente chegou a hora dele provar que não levantou apenas para dar uma mijada.
 Torço por dias melhores, com total consciência que eles demorarão, provavelmente, muito mais do que os mais pessimistas imaginam. Tendo plena consciência que termos mais raiva e menos 'bundamolismo' brasileiro, nos levará a vitória iminente. Somos 200 milhões.
Sou a prova viva que tomar gás lacrimogêneo nos pulmões transforma um cidadão. Principalmente quando esse cidadão passou a vida inteira pagando impostos, tentando seguir na linha, sem reclamar, vivendo dentro da situação burocrática estúpida que o nosso atrasado país vive há décadas, até que ele acorda e vê que tem bem mais coleguinhas brincando da mesma coisa que você gostaria de brincar. Daí a brincadeira se torna séria e todos descobrem que o prêmio lá na frente é recompensador em gênero, número e grau.
Sem política e sem partidos, minha raiva nasceu não só por mim, mas por todos nós. Creio que já passou da hora, portanto, de se ter mais raiva. Uma raiva séria e fundamentalista SIM. É iss que separa os homens dos meninos e separa as nações bagunçadas dos PAÍSES.
O U2 já falava disso há exatos 30 anos atrás no disco ''War'' (sugestivo o nome?), numa época em que guerras extremamente políticas como Malvinas, Oriente Médio e África do Sul se espalhavam pelo planeta.
Num trecho da música ''Two Hearts Beat As One'' (Dois Corações Batem Como Um), uma das minhas prediletas de toda a discografia dos irlandeses, eles dizem:
''Eu não sei distinguir minha direita da esquerda ou o certo do errado
Diga que sou um tolo, você diz que eu não sou para você
Mas se eu sou um tolo para você, já é alguma coisa''




Deliciem-se! Inspirem-se! Incentivem-se!


5 de junho de 2013

Educação Rígida X Educação Incisiva

Ao observar a educação que a filha de um casal de amigos recebe no início de sua vida, pude ter certeza que muito da nossa degradação cultural, se deve a falta de participação dos pais na formação do tipo de cultura que aquela criança consome. Não que ela não receba esse tipo de aprendizado dos pais. Pelo contrário. Provavelmente ela irá destoar da maioria dos coleguinhas e ter um prévio conhecimento cultural, principalmente musical, para ser mais seleta na hora de escolher o que ouvir nas horas de lazer.

E como isso afeta a educação de uma criança? De diversas formas, principalmente fazendo ela fugir das armadilhas mais nocivas que a subcultura de um país pode oferecer. Quando vivemos a era do tal 'quadradinho de oito', ou outras danças de gosto duvidoso trazidas para o sudeste desde o boom do axé no país com 'boquinha da garrafa' e coisas desse naipe, ficamos sujeitos a degradações cada vez mais incisivas.
Será que podemos ser incisivos numa outra direção? A filha desse casal de amigos me parece ser a prova que podemos proporcionar uma educação incisiva sem sermos ditadores culturais. Sem você determinar o que aquela criança, futuro cidadão formado, terá dentre seus gostos, você pode apresentá-la e ambientá-la num contexto mais elaborado. Acredito que certos meios de subcultura impedem incisivamente tal capacidade - comum a todos nós no início da vida - de conhecermos e escolhermos livremente, sem contaminação o que se pode consumir em termos de cultura. Afinal, qual cidadão com o mínimo de bom senso, ainda que tenha o QI de uma ameba, pode achar um funk mais benéfico culturalmente do que Beatles?!