26 de fevereiro de 2023

Obrigado, Mãe!

 Mãe, você sempre se preocupou em me preparar pra vida. Na minha infância, você parou de trabalhar como advogada para ser uma mãe mais presente. Seus ensinamentos eram passados com muita facilidade, sem imposição de ideias, mas sim dando escolhas. Você me contava que o vovô fez o mesmo contigo. Um misto de confiança e aprendizado.

Você não está aqui - os espíritas discordam de mim nisso - para ver tudo que consegui depois que você se foi. Aprendi a cozinhar, comecei a cuidar da casa com frequência de várias vezes por semana, tive que exercer a educação financeira que usamos nos últimos anos que você esteve aqui. Fomos sobreviventes.

Logo depois que você morreu, em menos de um mês, eu estava embarcando para realizar o meu maior sonho. Durante a viagem, sempre que eu pensava na recente perda, eu tentava mudar meus pensamentos, pois eu sabia que seu desejo jamais seria que eu ficasse triste durante a viagem e sim que eu curtisse bastante.

Três anos depois estive na terra dos nossos antepassados, no casamento de um dos meus amigos que você mais gostava. Sua última foto foi justamente com a esposa dele, que você adorava. Diferentemente da outra viagem, não teve um momento que eu não pensasse em você. Foi incrível. Tive a sensação que parte de você estava ali comigo. Lembro das suas histórias de quanndo esteve lá e isso me deu a nítida sensação que eu estava vivendo cada momento em sua companhia. 

Hoje estou degladiando cada momento, cada dia, contra a minha idade, que por vezes, me dá uma sensação de solidão, e ora, eu não sou nada sozinho. Tenho ótimos amigos. Inclusive, um gatinho chamado Joleno, tão levado quanto carinhoso. Você iria adorar ele, tenho certeza. 

Continuarei vivendo, sobrevivendo e sonhando. Graças a você.

11 de novembro de 2017

Baseado em Fatos Que Não Gostei

Acabo de assistir Castelo de Vidro (The Glass Castle, 2017) com a incrível Briel Larson. Uma história baseada em fatos reais sobre a vida da escritora Jeannette Walls, que viveu desde que nasceu com pais irresponsáveis e cheios de falhas.
Numa das cenas mais marcantes do filme, Jeannette, ainda criança, sofre queimaduras sérias porque foi fazer comida para si mesma, já que sua mãe se recusou a parar de pintar para alimentar a filha. Jeannette carrega até hoje as marcas das queimaduras. Seu pai era alcoólatra e vivia envergonhando a filha.
Em seu leito de morte, ele recebe a visita de Jeannette, perdoando-o por todos os erros cometidos em vida. O que foi impossível para mim, evitar comparações com a minha própria história. Eu não perdoei meu pai por todas as falhas de caráter dele. Eu não perdoei porque até hoje, mesmo depois de 1 ano e meio da morte dele, eu ainda tenho raiva dele por tudo que ele me fez e fez a minha mãe. Nada disso contudo, evitou que eu cuidasse dele até o último momento.
O ponto negativo do filme foi 'mostrar o lado bom' de um cara que foi egoísta, péssimo pai, irresponsável, preguiçoso. Uma tentativa de humanizar demais um cara que foi um ser humano deplorável. Cada um tem um tipo de visão de mundo. A minha consiste em saber que vivemos muito pouco para perder tempo com clichês do tipo 'ah, mas ele é seu pai e você deve perdoá-lo'. Aprendi - e hoje tenho mais certeza ainda disso - que temos a obrigação moral para conosco, de nos preservarmos de gente ruim por perto, de querer somente quem realmente venha a somar. Não interessa se há grau de parentesco ou não. Sangue é algo que de nada vale quando seu caráter já se contaminou.

12 de maio de 2015

Felicidade Plena

O grande embate filosófico travado no cérebro de um suicida é: existe a felicidade em sua plenitude?
Talvez 99% da população mundial já tenha se perguntado isso. É uma dúvida comum a praticamente qualquer pessoa, provavelmente derivada de outra questão que tanto os físicos quanto os filósofos tentam responder: qual o sentido da vida?

Isso não significa que quase todos nós sejamos suicidas, mas que buscamos todos os dias alguns motivos para permanecermos nessa aventura. Atentem-se, é claro, que estou descartando a possibilidade de o sujeito não ter cometido suicídio por pura falta de coragem. Estou falando de alguém bem racional (o que é raro, pois somos seres emocionais em nossa natureza).

Tal pensamento me surgiu em meio a chuva da madrugada, um dia, voltando a pé para casa, quando a chuva apertou e me lembrou de um episódio de 1996, durante minha adolescência, quando eu estava num bairro isolado, triste e chorando sofrendo por uma paixão juvenil, quando também caía uma chuva forte e no meio do nada eu dei um urro típico dos filmes mais dramalhões possíveis. Aquilo foi como dizem, ''descarregou'' as energias que eu tinha acumulado de forma negativa devido a situação.

Sou ateu e cético no que diz respeito a esse papo de 'energias', mas creio que dependemos de certas válvulas de escape para fazer mente e corpo funcionar melhor. Pode ser uma música, um esporte, gritos, cantos, sexo, leitura, filmes, trabalho, ou qualquer coisa que ocupe a mente, provocando reações benéficas ao corpo, ou pelo menos, não atrapalhando o bom funcionamento dele. A medicina moderna aceita que a felicidade (seja lá que diabos signifique essa palavra) possa influenciar diretamente na produção de vitaminas e hormônios, o que soa como óbvio para quem já teve pelo menos uma pontinha de tristeza ou depressão na vida e sentiu isso na pele.

Quando parei para reparar que vivemos em busca da nossa plena felicidade, lembrei imediatamente do filme 'Inteligência Artificial', quando um robô que pensa ser um garotinho e pensa ter uma mãe (humana) de verdade, demonstra com atos todo seu afeto e suposto amor. No filme, idealizado pelo gênio Stanley Kubrick e finalizado pelo outro gênio Steven Spielberg, a ideia do amor não passa de uma programação na mente de uma máquina, com comandos e respostas. Se ele atingiu a tal 'inteligência artificial' que o título do filme propõe, jamais saberemos, mas só a ideia de que um sentimento possa ser algo programável, já nos incomoda. Será que todo o princípio rústico da felicidade, é baseado na forma que nós auto-programamos nosso cérebro?  Não sei os outros, mas na ausência dessa resposta, enquanto escrevia esse texto, devorei uma barra de chocolate saindo de uma dieta que tenho vivido.

11 de julho de 2014

Complexo de Vira-Lata

Em tempos que o outrora chamado país do futebol se vê num mar de humilhação e vergonha por causa de um jogo, surgem os críticos de plantão, que se aproveitam do momento para falar tudo aquilo que não falaram antes. Críticos novatos, ainda engatinhando em suas ideologias do que considera o melhor para seu país. Gente que nunca parou pra pensar com seriedade sobre o poder do voto, o poder de uma massa unida com um objetivo em comum. Gente que defende o Brasil com unhas e dentes - tendo razão em defendê-lo até no máximo a página 5 - sem jamais permitir que seus costumes e traços culturais sejam alvos de ferrenhas críticas por parte de alguns.
Obviamente, junto a isso, passou-se a dizer que brasileiro tem complexo de vira-lata,.Seria um cão sem dono, sem raça e sem comportamento padronizado? Não, quem costuma dizer isso apenas acha que brasileiro é humilde demais. Eu sempre discordei disso apenas pelo fato de ver brasileiro se enaltecendo demais. Nada soa mais ridículo aos meus ouvidos do que ouvir o cântico ''Sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor''. Não pelo significado literal dos dizeres, mas sim por não termos nem um pouco esse orgulho.
Desde que eu me entendo por gente, vejo o costume por aqui de dizer que algo nosso era ''o melhor do mundo'', ou o ''maior''. Maior estádio, melhor time de futebol, maiores cataratas do mundo, maior floresta, maior festa de rua...
Aos poucos perdemos cada um desses motivos de orgulho, pois são naturalmente orgulhos que somem, se perdem, são superados, ainda mais para um povo sem NENHUM traço cultural. Dói a alguns que a ideia da miscigenação tenha sido responsável por termos essa carência de características comportamentais. É difícil padronizar o brasileiro em qualquer âmbito. São valores bem questionáveis para um país que nunca ganhou um Prêmio Nobel. A Alemanha, que nos deu uma porrada moral na semi-final da Copa, já ganhou mais de 100 e além dela 72 países já ganharam algum Prêmio Nobel em algum momento de sua história. Nós não. Dizem que temos grandes cientistas, grandes profissionais, mas o hiato de conhecimento que temos em relação ao resto do mundo, torna tudo uma grande covardia. 
Se temos complexo de nos acharmos piores que alguém, talvez seja porque realmente somos. Haverá sempre a justificativa do acomodado, dizendo que há países piores. Talvez um vira-latas não deixaria um país com 200 milhões de habitantes não se organizar de forma decente para melhorar as condições do povo e colocar a culpa em apenas meia-dúzia que NÓS colocamos no poder lá em Brasília. Nem um vira-latas do mais esfomeado e humilde, que já tenha sido 5 vezes campeão do mundo num esporte, deixaria ser humilhado naquilo que se considera seu maior motivo (imbecil) de orgulho. Um vira-latas não deixaria sua maior floresta diminuir consideravelmente, por pura incompetência administrativa ou desonestidade. Um vira-lata, não ficaria décadas de sua vida entrando em ônibus lotado sem reclamar. Ele fugiria para outro lugar. É injusto dizermos que somos vira-lata.

28 de dezembro de 2013

As cadeiras lucrativas

Há muito tempo venho notando (e reclamando) dessa tendência dos bares aderirem a essas cadeiras de madeira com encosto desconfortável. Aliado a isso, hoje constatei despretensiosamente, que a postura dos frequentadores de bares está preocupante. Corpos curvados para frente e colunas sem apoio que provavelmente resultarão daqui alguns anos em seríssimos problemas de postura, dores, cirurgias de hérnia de disco, etc.
Me intriga imaginar se não passa na cabeça de nenhum cliente reclamar sobre essa recente moda, pode-se assim dizer, que pegou em tudo que é bar. Parece que não existe mais outro tipo de cadeira. Aquelas cadeiras de plástico, mais confortáveis, com apoio para os braços e um encosto bem mais amplo para as costas, caíram em desuso nos novos e recém-inaugurados bares. Até uns antigos aderiram.
A princípio pensei tratar-se de uma medida burra para espantar cliente. Depois conversei com um grande amigo que já gerenciou um dos maiores e bem sucedidos bares do Rio de Janeiro e ele me explicou os motivos. Vamos fazer umas contas não muito difíceis.
Se considerarmos valores médios de uma garrafa de 600 ml de cerveja por R$ 7,00 e uma porção de batatas fritas por R$ 20,00, para uma mesa de um grupo de 5 pessoas (que na verdade ocupa uma mesa de 6 lugares considerando-se as pontas da mesa), e um consumo médio de 12 garrafas de cerveja (calculando 1 litro e meio de cerveja por pessoa), além de 2 porções de batata frita para o grupo. A conta dessa mesa custaria R$ 124,00, para um grupo que não ficará menos de 3 horas ocupando aquelas duas mesas, afinal, 5 lugares não cabem numa única mesa quadrada, sempre se 'junta' outra mesa totalizando 6 lugares (nesse caso, um sobra).
Vamos considerar um casal no mesmo bar. Consomem os mesmos 1,5 litro por pessoa (5 garrafas no total para o casal) mais uma porção de batatas fritas. A conta deu menos da metade do grupo do exemplo anterior, porém a permanência desse casal não passa de 1 hora e meia, dificilmente chega a duas horas, o que dá um fluxo ao estabelecimento.
Num bar de padrão popular, não é do interesse da casa que uma mesa fique ocupada por muitas horas. Um consumo de R$124,00 por 3 ou 4 horas não compensa o mesmo que duas mesas de casais separadas consumindo R$55,00 cada mesa em 1 hora e meia, afinal são R$110,00 de faturamento pela MESMA QUANTIDADE DE MESAS ocupadas que um grupo ocupando-as por 3 horas e dando apenas R$24,00 de faturamento por pessoa, enquanto o casal faz a casa faturar R$27,00 por pessoa pela metade do tempo.


Resumindo: os bares não querem seu grupo lá. Se tiverem cadeiras confortáveis você não irá embora rápido, mas isso não é do interesse deles. Realmente as cadeiras de plástico estão raras e me deixam com saudade.