Há anos já se diz que 'o Natal perdeu o sentido, tornou-se data comercial'. Eu, como ateu, hoje em dia só consigo ver dessa forma. Me assusto com a idiotice do meu passado distante, onde minha não muito extensa família se juntava para trocar presentes de Natal, esperava-se até meia-noite para devorarmos a ceia e havia aquele tradicionalismo religioso todo imposto pela minha avó materna. Era triste, não era nada com muita pompa, muita fanfarronice. Era o tipo de festa mais triste possível. O pensamento que dominava todos era: ''hoje não pode fazer isso, é Natal'', ''hoje não pode fazer aquilo, é feio''. Sinceramente, se daqui 2 mil anos comemorassem a data do meu nascimento, de forma tão triste, eu ia ficar muito puto.
Natal só existe nas famílias com os seguintes pré-requisitos:
1 - serem famílias de pelo menos 4 ou 5 pessoas, ou mais e serem unidos: sem brigas familiares - não estou falando de divórcio - onde há uma harmonia, haverá um propósito para se reunirem que não seja apenas a data natalina.
2 - dinheiro no bolso: presentes e ceia custam (muito) dinheiro.
3 - alguém na família, geralmente a pessoa anfitriã, que acredite e siga as tradições cristãs de que 'o natal é onde se comemora a vinda do Nosso Senhor Jesus Cristo', ainda que isso não seja lembrado durante nem sequer 5% do evento todo.
Passados mais de 20 anos, hoje o Natal para mim se resume a mensagens no orkut e facebook, sms, emails e muita, muita, muita propaganda nas ruas. O setor de publicidade deve ficar entediado nessa época. É só você jogar um Papai Noel na propaganda e anúncio de qualquer produto e não precisa de mais nada. É a época das propagandas menos criativas. O que é uma pena, pois apelar pra Papai Noel me deixa entediado. Ele sempre me pareceu um velho pedófilo. Bota criancinhas no colo pra tirar foto e dá aquela risadinha marota 'ho ho ho'. A noite ainda vai na casa de cada uma, com todo mundo dormindo, já sabendo que a criança não conseguirá dormir esperando por ele. Coisas do tradicionalismo me causam muita estranheza. Ainda querem reclamar de padres pedófilos?
Porém, tudo tem seu lado bom. Natal é uma época que as pessoas querem se isentar de agressividade, de pensamentos negativistas. É justamente quando ocorre a união de algumas pessoas que esquecem das outras no resto do ano. É quando acontecem coisas, que do ponto de vista cristão, é o 'milagre de Natal', ao juntar tanta gente em tanto sentimento de 'paz e harmonia'.
Aliás, esse papo de desejar para todos 'paz, harmonia e prosperidade', só ocorre em aniversários, Natal e Ano Novo. É um clichê do qual não escapamos. Mas seria muito mais legal se as pessoas levassem isso pro resto dos dias do ano, talvez os mais importantes. Afinal, o Natal e o Ano Novo são tradições que duram 7 dias, mas que não trazem frutos para os outros 358 do ano. Dizem que o que engorda não é o que comemos entre o Natal e o Ano Novo, e sim o que comemos entre o Ano Novo e o Natal, mas as pessoas se esquecem que durante esses 358 dias restantes, acontecem muitas coisas a mais do que apenas 'engordar'. Nós nos estressamos, ficamos cansados de trabalho, das pessoas. Nos saturamos do convívio de pessoas próximas a nós. Aí chega Natal e está tudo bem agora? Me tirem dessa utopia, façam-me o favor. Somente aproveito a época para demonstrar, pura e simplesmente, o que sinto e desejo para as pessoas que gosto. Não acredito em 'correntes' ou 'vibrações' de positividade, mas como 95% das pessoas acreditam, é interessante que eu demonstre algum carinho e afeto pelas pessoas queridas nessa época, senão se sentirão esquecidas. Definitivamente, o mundo seria mais fácil de se viver se não fossem as tradições.