21 de abril de 2004

Nosso correspondente exclusivo Rodrigo "Buiú" de Paula, diretamente de uma fazenda invadida pelo MST, nos traz essa entrevista com um integrante do movimento.

-Qual o seu nome?

-Severino

-Qual a sua profissão?

-Sou Sem-terra

-Mas Sem-terra é profissão?


-Há bem mais de um ano

-É rentoso?

-Não tenho o que reclamar, não se paga imposto, não há relógio de ponto, nem patrão para chatear .

-E o que você faz no seu trabalho?


-Armo esta tenda de plástico onde finjo que vivo nas terras dos outros. Dou entrevistas e sento no banquinho, com cara de agricultor frustrado o dia todo.

-E a comida?

-Ganho seguro comida

-E a roupa?


-Ganho seguro roupa.

-E remédios?


-Ganho seguro médico.

-Tens família?

-Claro.

-E como a sustenta?

-Seguro gravidez, Seguro filho, Seguro pobreza, Seguro escola, Seguro tudo na moleza, Seguro morreu de velho.

-Mas o que pretende?

-Meus direitos trabalhistas.

-Como assim?


-FGTS, INSS, Décimo terceiro.Seguro desemprego, férias remuneradas e carteira assinada.

-E depois?


-Ora, aposentadoria por invalidez. Sabe, sentar neste banquinho, de pernas cruzadas, com cara de infelicidade, desgasta a espinhela. Tem gente aqui que após cinco anos, de tanto ficar sentado, virou um bagaço.

-É uma profissão sacrificante?


-Sem dúvida alguma. Temos alto índices de hemorróidas. Sabe o que é ficar sentado, sentado...

-Algum recado?

-Ah sim, às autoridades e às comissões de direitos humanos. Queremos computador e um colchão de espuma na cama.

-Como?

-Queremos aparelho de som, DVD, forno microondas, ar condicionado, televisão...

-Deseja aproveitar o espaço para mandar alguma mensagem?

-Aos contribuintes, ou seja, aos otários: Continuem trabalhando e nos sustentando com seus polpudos salários.

Fala que eu te escuto

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