Rio de Janeiro, dia 16 de janeiro. Despertador marcado para tocar às 9 horas da manhã. Café rápido e leve, banho e passada no banco para tirar dinheiro. Chegada no shopping Via Parque (entrada do Claro Hall) às 10:05. Chuva às 14 horas, durando até às 15 horas aproximadamente. Capa de chuva por R$ 5,00. Tênis e roupa já encharcados.
19 horas, abertura dos portões do Claro Hall. Ar condicionado gelado. Multidão se espremendo em uma fila gigante que ia de um lado ao outro do estacionamento do shopping. Realmente, a Cidade Maravilhosa fez bonito mais uma vez. Entrada no Claro Hall, empurra-empurra infinito e incansável por parte dos lunáticos e eufóricos fãs da maior banda de heavy metal do mundo.
Pude ainda conhecer uma nova forma de me divertir em filas de shows. A memorável ''tree-jump'', que consiste em se auto-arremessar na direção de um arbusto. Nada mais Beavis & Butt-Head do que isso.
Um abraço para o Rudy, Leandro e Rossana, por terem tornado as difíceis e ansiosas horas de espera um pouco mais divertidas. Aos novos colegas paulistas, também presentes nessa fila do Rio, aguardem, pois citarei vocês um pouco mais à frente.
Show da banda de abertura
Heaven Falls com início às 20:30 pontualmente (foram mais pontuais do que os britânicos da noite). Cover do Ozzy (''Perry Mason'') e músicas do único cd da banda, num show pequeno de pouco mais de meia-hora.
Luzes apagadas. Sinfonia clássica. Cenário sendo revelado em meio à histeria coletiva de 8 mil pessoas. Começa o momento tão esperado. Eu, é claro, estava na grade, colado, na política do ''daqui não saio, daqui ninguém me tira''. E muitas, muitas, talvez centenas de pessoas ali, se espremendo num espaço que contrariava as leis da física, tentando fazerem o mesmo que eu: lutarem pelo seu lugar na frente.
Set list perfeito, sem erros, ou exageros, nem pecados imperdoáveis. Início avassalador com a nova ''Wildest Dream'', seguida do clássico ''Wrathchild'' e da maior surpresa do set list, a quase esquecida pelo tempo (apenas pela banda e não pelos fãs) '
'Can I Play With Madness'', o que provou que ela não estava tão esquecida assim. Antes de
''The Tropper'', um momento inusitado: a pele do bumbo da bateria arrebentou, tamanha a delicadeza que seu ''piloto'' a utilizava. Um trabalho digno de equipe de Fórmula 1 por parte do roaddie, que mereceu palmas de todos. Nesse meio tempo, Bruce Dickinson e Nicko McBrain começaram umas brincadeiras no palco para não ficarem entediados. Steve Harris, arremessou a pele do bumbo estourada para o público, como se fosse um frisbie.
Logo após isso tudo, o show retoma seu set list de onde havia parado.
''Dance of Death'' seria a próxima pancada no coração, olhos e ouvidos de todos que estavam ali, para ver que uma banda, que se dá ao luxo de, mesmo após 25 anos de carreira, lançar um novo disco, e poucos meses depois, ter músicas desse disco na ponta da língua do público, é algo que faz a banda merecer o título de a maior banda de heavy metal do mundo.
Claro que não faltaram clássicos como
''Hallowed be Thy Name'',
''The Number of The Beast'',
''Run To The Hills'', a recente
''Brave New World'' e a óbvia
''Fear of The Dark''.
No bis, a execução perfeita e inesperada de ''Journeyman'', com Dave, Janick e Adrian sentados em banquinhos com violões a tira-colo e Steve com seu baixo acústico (baixolão para os mais íntimos) em pé. Nessa hora, Bruce aproveitou para fazer um discurso em que termina dizendo
''Sempre voltaremos ao Brasil e quando dissermos que iremos tocar aqui, não cancelaremos nosso show'', em óbvia referência ao Metallica. O público entendeu no ato e puxou um coro
''Ei Metallica, vai tomar...'', que aparentemente, nem precisou ser traduzido para a banda.
Mas foi no hino da banda
''Iron Maiden'', que me aconteceu a coisa mais inusitada da noite. Eu chorei num show do Iron Maiden. Não tenho vergonha de dizer isso. Tudo porque tinha acabado de ver o
Eddie mais fantástico que já tinha visto em 10 anos como fã da banda. Bizarro!!
No fim, garanti a minha baqueta, personalizada e com marcas de uso do Sr. Nicko McBrain, tendo esta sido arremessada para o público, o que necessitou uma briga incansável de minha parte para ganhá-la. Umas 12 mãos tentavam se apoderar dela como se fosse um prêmio, mas desde o começo, ela estava na minha mão. Só precisei ser ''um pouco grosso'' para conseguí-la.
Durante sua estadia no Rio, a banda ainda foi até a churrascaria Porcão na Barra, se encheram de picanha e vinho francês. Bem humorados ainda fizeram uma canja no bar da casa.
Minha volta para casa e um merecido banho após ter gasto quase R$ 40,00 durante o dia/noite todo com bebidas (apenas). Afinal de contas, uma desidratação seria inevitável, tendo em vista meu atual estado físico.
Um banho, ida ao aeroporto às 3 da manhã, com embarque marcado para 4:40...
São Paulo, 17 de janeiro. Chegada em São Paulo às 5:55. Café reforçado às 6:20 com sanduíche de lingüiça e mostarda preta, mais um copo de pão de queijo e uma coca 600 ml.
Chegada da minha amiga-guia Sheilla às 7 horas da manhã no aeroporto de Congonhas. Ida ao apê dela, descanço curto, relaxamento... silêncio.
Chegada ao Estádio do Pacaembu... Ops, mentira. Chegada à fila do Estádio do Pacaembu às 8:40. Fila esta gigante, levando-se em consideração os mais de 42 mil ingressos postos à venda praticamente esgotados na véspera. Sol, tumultos mais do que convencionais na fila e muita, muita sujeira no chão. O fedor de urina (urina é feio, é mijo mesmo) era insuportável no começo, mas de fácil adaptação. Cerveja ? Só Kaiser e olhe lá, agradecendo a Deus por ter comprado por R$ 2,00. Por volta de 11 horas, encontro com meus novos amigos paulistas que conhecera na fila do show do Rio. A famosa rixa entre paulistas e cariocas foi desmentida dessa vez. Os caras me trataram super bem e até brincaram dizendo que existe carioca gente boa e que curta metal.
Um abraço para todos vocês: Bisão, Curió, meu xará Pedro e ao também carioca (e por coincidência também de Jacarepaguá) Vinícius. Se esqueci de alguém, desculpe.
Abertura dos portões às 17 horas. Expectativa pela consagrada banda de abertura
Shaman. Início às 20:30 aproximadamente. Show normalíssimo e rotineiro sem nenhuma novidade do quarteto paulista, com set list baseado no único disco da banda até hoje, incuindo um cover do Ozzy ("No More Tears''), com desfecho do clássico do Angra ''Carry On'', que de costume foi bem melhor do que o Angra hoje em dia. Ótima escolha para abrir um espetáculo desse porte, como é um show do Iron.
Pergunta que não quer calar: por que diabos eles ainda não se trancaram num estúdio para gravação/composição do novo cd?Começo, dessa vez, pontual da Donzela de Ferro às 21:30. Set list idêntico ao da noite anterior, com mudança na ordem de algumas músicas e de dois telões posicionados lateralmente ao palco. Sem contar que
"Hallowed Be Thy Name" foi recebida com uma certa idolatria e fanatismo por todos, diferente do que aconteceu no Rio. A agitação era muita e, às vezes, passava dos limites de segurança. Foi quando Bruce, logo após
"Can I Play With Madness", deu uma bronca no público, sem falar uma palavra em português, pedindo para que parassem com o empurra-empurra na frente do palco, contra o pessoal que estava na grade: "Stop the fuckin pushing !!!".
Mais uma vez, o coro anti-Metallica foi unanimidade, fazendo com que Bruce até brincasse, fazendo uma batida no microfone enquanto o pessoal gritava
"Ei, Metallica, vai tomar..." . Terminando com o já costumeiro festival de baquetas, munhequeiras e palhetas sendo arremessadas para o público no fim do show. Peculiaridade? Poucas. Um cara invadiu o palco, deu um abraço no Bruce e vazou. Fora isso ''apenas'' o show da melhor banda de heavy metal de todos os tempos.
Volta para casa. Essa foi a hora ruim. Só às 4:40. E ainda eram 1:20 quando eu estava tomando um chicabon para melhorar meu estado deplorável físico-alcólico-mental. Somente às 7:30 da manhã, eu estaria de banho tomado e paquerando a minha cama, mas tratei-a sem pudor nenhum e já fui me jogando em cima sem muito papo.
Certeza de que valeu a pena? Não acredito que eu preciso dizer algo sobre isso. Meus leitores são inteligentes, creio eu.
UP THE IRONS !! (mais do que nunca)